domingo, 25 de abril de 2010

Seis meses

Hoje, faz seis meses do nascimento do Heitor e da Maria Júlia. Coincidentemente, foi em um domingo que eles nasceram. Não tive nem de perto aquilo que se chama de parto humanizado. Júlio que tanto planejava fotografar e filmar esse momento, não se lembrou sequer do celular. Me lembro que foi um dia extremo. Extremo pela situação, extremo pela coragem com que enfrentei tudo, extremo pela esperança. Tinha certeza de que Deus estava comigo. Queria dar a chance aos meus filhos de viverem. Tinha pavor de que, em virtude do meu medo, eles morressem na minha barriga. Por isso, não pestanejei. Me entreguei nas mãos de Deus. Na sala de parto, vi o dia amanhecendo e cantei "preciso de uma benção e não vou desistir. Sem ela eu não vou sair daqui. Só saio quando o Senhor me tocar". Até hoje, eu não desisti. Todos me dizem que Deus não me abandonou. Acredito nisso. Mas confesso que estou necessitando sentir o amor dEle de forma concreta. Coisas da minha pequenez... Assim como fiz no mês em que engravidei do meu casalzinho, pedi a Deus que permita que eu participe novamente desse milagre da vida. Fico imaginando, como estariam os meus filhos com seis meses. Como a minha vida estaria... Certamente, bem diferente. Júlio há muito tempo sonha em ter uma filha. Acho q ninguém queria a Maria Júlia mais q ele. E a nossa guerreirinha lutou por esse amor. Acho q ela só se entregou para ir com o Heitor, meu belo e sensível principezinho... Corta o coração ver os olhos do meu marido testemunhando o amor das menininhas por seus pais. Deus permita que nossa família possa viver isso. Só podemos pedir e aguardar o que Deus tem para nós. E é isso que temos feito.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Pequenez

Ontem, recebi uma excelente notícia. O pequeno Mateus, filho de Paulina, uma amiga do tempo do colégio, está vencendo a luta contra a prematuridade. Ele nasceu no dia 26 de fevereiro com 550gr, porque Paulina teve pré-eclampsia. Agora, ele já está com 1.320gr e respira sem aparelhos. Uma super vitória. Ela tb já se recuperou. Eu rezei por isso e até pedi a ajuda de Heitor e Maria Júlia nessa missão. Não gosto muito disso, dessa história de que tenho dois anjinhos intercedendo por mim. Desejo q meus filhos apenas se lembrem de mim e que um dia nos reencontremos. Não acho justo q eles fiquem lá no céu a postos, para me ajudar a realizar os meus desejos. Mas isso é outra história. O fato é que passada a euforia com os progressos de Mateus, me veio a pergunta: pq com eles deu certo e comigo não? Pq Deus não fez esse milagre por mim tb? Não tive inveja deles. Pelo menos isso. Mas queria ter vencido a minha luta. Queria ser uma pessoa "superior" e só ter pensamentos nobres. Mas sou pequena, uma verdadeira ignorante, que não consegue nem chegar perto de uma explicação para tamanha "tragédia". Tá... hj é outro dia. Já chorei minhas mágoas na terapia e estou melhor. Minha preocupação agora é identificar meu perído fértil... Com ou sem entendimento, a vida continua. Não tenho escolha. Só posso tentar ser feliz...

sábado, 17 de abril de 2010

Ansiedade

Quem já planejou uma gravidez sabe como é difícil controlar a ansiedade. Lembro que quando me planejava ano passado, os médicos diziam que era normal esperar até um ano para engravidar. Quem não quer, engravida de primeira... incrível!!!! Eu engravidei na quinta tentativa. Estava louca de ansiedade. As quatro tentativas que não deram certo foram frustrantes. Depois de viver tudo o que eu vive, é de se imaginar que dessa vez vou ficar ainda mais ansiosa. Júlio vai ter que ter paciência. O pobre sofre com o meu mau humor. Mas tenho procurado ajuda. Estou fazendo terapia e agora estou fazendo um curso de patchwork para ocupar a cabeça. A terapia já estou fazendo há três meses. O patchwork comecei agora. A terapia tem sido muito boa, tem me ajudado. Já o patch ainda é cedo para avaliar. Voltei meio deprê da primeira aula. Aconteceu tudo o que eu imaginava. É inevitável que perguntem se tenho filhos. É horrível responder: tive. Algumas pessoas dizem vc tem filhos. É claro que tenho, mas se eu digo tenho, as pessoas vão querer detalhes, nunca vão imaginar o que aconteceu. Quando perdemos nossos avós, nós dizemos: eu tinha uma avó que fazia bolinhos de chuva. Não é assim? Dizer que tenho filhos é esquisito. Ainda não encontrei uma forma de me referir aos meus pequenos Maria Júlia e Heitor, meu sonho bom...

terça-feira, 13 de abril de 2010

Solidariedade

Ainda nem sei porque criei esse blog. Primeiro, pensei em desabafar. Não iria nem divulgá-lo. Queria só escrever. Tinha tentado isso no Orkut, mas sempre que eu fazia um desabafo, alguém respondia e eu me envergonhava por estar sofrendo. Mas ao fazer o blog, senti que ele não faria sentido se não fosse compartilhado. Então resolvi divulgar para os meus amigos. Graças a isso, hoje recebi vários e-mails de pessoas que gostam de mim, solidarizam-se com a minha dor e querem me ajudar a recarregar as baterias. Foram várias as mensagens que me tocaram. Mas resolvi postar aqui um trecho da mensagem da Mariana, parceira de profissão e no desejo de ser mãe plenamente: "Entrego meus problemas para Deus porque confio nEle e aceito todas as provas que tenho que passar porque sei que um dia vou agradecer pelo crescimento que elas me proporcionaram". Que assim seja, Mariana!

PS. Percebi que assim como eu, meus amigos não são adeptos dos blogs. Em vez de comentarem aqui mesmo, a grande maioria resolveu mandar um e-mal. KKKK!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Causa

Já se passaram cinco meses e meio do meu parto prematuro e ainda não sei a sua causa. Alguns médico afirmam que tive ICC (incompetência istimo cervical). Isso quer dizer que o cólo do útero não suporta o peso de uma gravidez. Mas uma médica amiga da família não acredita nesse diagnóstico porque eu tive contrações, ou seja, o cólo não abriu do nada. A polêmica me deixa ainda mais insegura. Caso eu tenha a ICC, terei que fazer uma cirurgia chamada cerclagem com 12 semanas de uma próxima gestação. E se eu não fizer... o que irá acontecer???? Tenho procurado me cercar de bons médicos. Pretendo ainda ouvir outras opiniões. Vamos ver o que irá acontecer. Primeiro preciso engravidar novamente. Estou entrando em um novo ciclo.

História 1

Desde que eu casei, em 2005, desejava ser mãe. Mas decidi esperar um ano ou dois para começar a tentar. As dificuldades relacionada a trabalho me fizeram adiar um pouco mais esse sonho. No final de 2007, mudei de Recife para Brasília em busca de melhores oportunidades. Deu certo. Então me dediquei durante o ano de 2008 a preparar meu corpo para a missão. Suspendi o anticoncepcional, tomei as vacinas pendentes, essas coisas. Mas só no início de 2009 comecei a tentar. Em abril, uma médica diagnosticou ovário policístico, o que nunca foi comprovado. O fato que é ela me receitou um remédio para estimular a ovulação. No mês seguinte, estava grávida. Na primeira ultra, com pouco mais de cinco semanas descobrimos que eram gêmeos. Me senti radiante. Feliz como nunca imaginei. Como minha família tem muitos gêmeos, os médicos não acreditam que o remédio tenha sido o responsável por isso. Bom... comecei o pré-natal com outro obstétra, indicado por uma amiga, já que a médica anterior tinha decidido não acompanhar mais gestantes. Tudo ia bem. Tinha engordado bem pouco. Todos os exames estavam normais. Só sentia dores na bacia e por baixo do osso púbico. Mas o meu médico dizia que era normal.

História 2

A cada ecografia uma surpresa boa. Na morfológica de segundo trimestre, descobri que estava gestando um casalzinho. Meu sonho mais sonhado era realidade. Ficamos todos radiantes, eu, meu marido, meus pais, irmãos,minha sogra, tios e tias. Mas ficamos também um pouco preocupados porque, a minha filhinha estava tão embaixo, que o médico não conseguiu medir sua cabecinha, mas não disse que havia algo errado. Nessa época eu também estava perdendo um muco espesso e amarelado. O meu médico, sem me examinar, decidiu tratar como uma inflamação banal e passou um creme vaginal. Seu primeiro erro. Na madrugada do dia 18 de outubro de 2009, não dormi bem, sentido a barriga mexer muito. Durante o dia, conversando com minha mãe por telefone (ela mora em Recife), ela me alertou que, no caso dela, a perda do muco estava relacionada ao início do trabalho de parto. Então fiquei alerta e durante a madrugada percebi a barriga mexendo muito novamente e que as mexidas na verdade eram contrações. Fui para o hospital, mas achando que não era nada demais. Quando cheguei lá, a plantonista fez um toque e constatou que eu já estava com pouco mais de 3 cm de dilatação, apesar de não sentir dor. Fui internada e passei 5 dias tentando inbir o parto. No quinto dia, meu médico decidiu me mandar para casa, onde eu deveria permanecer em repouso até o fim da gravidez. Isso mesmo, ele me mandou pra casa apesar da dilatação. Seu segundo erro. Resultado, voltei na mesma noite para o hospital com um sangramento. Lá, disseram que o quadro era o mesmo e que meus filhos estavam bem. Voltei para casa. De madrugada - sempre de madrugada - voltei para o hospital. Dessa vez, já estava com quase 6 cm de dilatação. Então, segundo os médicos, não havia mais como evitar o parto. Nós estávamos completando naquele domingo, 25 de outubro, 25 semanas. Eu sabia que estava vivendo uma situação extrema, mas confiava que Deus cuidaria de tudo, apesar de o médico repetir inúmeras vezes que a regra era não dar certo e que aquele parto estar mais para um aborto. Nossa, ele fez o que já era difícil se transformar em um verdadeiro filme de terror. Como se não bastasse, diante da diminuição das contrações, ele decidiu fazer uma cesárea, mesmo sabendo a importânca de um parto normal para prematuros. Seu terceiro erro. Na verdade, ele não estava nem um pouco preocupado com os bebês. Tanto que chegou a cogitar induzir o parto com ocitocina. Só não fez porque os neonatologistas impediram. Eu confesso que estava totalmente passiva. Aquela situação fugiu totalmente de tudo o que eu poderia ter imaginado e me preparado. Então não me senti segura para opinar. Faria o que ele dissesse.

História 3

Heitor nasceu com 770gr e Maria Júlia com 600gr. Foram guerreiros. Nasceram respirando, o que deu muita esperança aos neonatologistas. Seis horas depois do parto, já estava eu na UTI visitando meus filhos. Senti um grande alívio ao vê-los. Apesar de todos os aparelhos, estavam vivos e os médicos me diziam que embora o quadro fosse grave, o desafio deles era a prematuridade, pois eles não tinha nenhum tipo de má formação. No dia seguinte, 36 horas depois do parto, tive alta. Meu médico não teve sensibilidade nem para perceber que eu precisava estar no hospital para facilitar as visitas na UTI. Aliás, ele queria apenas se livrar de mim. Não ter que me olhar nos olhos depois de tanta negligência. Meus filhos viveram por 15 dias. Em todos esses dias estive com eles, chorando, rezando, pedindo que Deus cuidasse deles, sonhando em sair daquele pesadelo. Os primeiros dias foram bons. Mas por ironia do destino, depois que eles começaram a receber o meu leite, através de uma sonda, no terceiro dia, tudo mudou. Eles não conseguiram digerir e começaram a piorar. O leite que na maioria dos casos funciona como um remédio, para meus filhos teve efeito contrário devido a prematuridade. Foi identificada uma infecção, tudo indica que de origem hospitalar, que os médicos nunca conseguiram eliminar. Meus filhos foram ficando cada vez mais debilitados, tomaram inúmeras transfusões de sangue e passaram por cirurgias no intestino. Primeiro a Maria Júlia retirou cerca da 40% do intestino por causa de uma enterocolite. Três dias depois foi a vez do Heitor. Embora cirurgia dele tenha sido menos agressiva, meu filho só resistiu por mais 48 horas. E a Maria Júlia que já tinha passado por mais de 72 horas, parece que sentindo a falta do parcerinho dela, se foi cinco horas depois do irmãozinho. Eles eram de fato uma dupla. Ninguém pode imaginar o que é receber a ligação de um médico no meio da madrugada informando a morte de um filho, ir lá, sentir o corpinho ainda quente, voltar para casa e horas depois receber a notícia da morte da filha e repetir o ritual. Uma hora você está cuidando da decoração do quartinho e na outra escolhendo a urna para sepultá-los. A dor é insuportável. Confesso que fui tomada por um profundo ódio. Questionei duramente Deus. Como Ele podia ter deixado isso acontecer comigo? Ainda não sei. Mas tenho me esforçado para aceitar tudo aquilo em que eu sempre acreditei, que Deus é misericordioso, que Ele sabe de todas as coisas e que meus filhos estão no melhor lugar em que poderiam estar. Não é fácil. Vez por outra me pergunto por que tanto sofrimento? Por que meus filhos não puderam viver um minuto de felicidade comigo, em vez de toda a aquela dor? Acho que só vou saber quando estiver com eles, junto com Deus. Enquanto isso sigo caminhando.

domingo, 11 de abril de 2010

Saudades

Escolhi essa foto para ilustrar o blog porque ela representa a minha felicidade. Estava com 22 semanas de gestação, posando para a foto em frente a parede pintada por Júlio para decorar o quarto dos nossos filhos. Essa foto representa a saudade da fase mais feliz da minha vida que foi interrompida de maneira abrupta. Uma fase que não volta. Mas quem sabe poderá ter uma nova versão.