domingo, 20 de junho de 2010

Identidade

A vida toda eu fui Aline, filha de Aliceu e Neusa e irmã de Luiz Claudio e Renata. Há quase cinco anos, me tornei esposa de Júlio e há pouco mais de um ano me preparava para ser conhecida como a mãe do Heitor e da Maria Júlia. Queria de verdade. Pode ser que um dia isso, deixar de ser Aline para ser a mãe de Heitor e Maria Júlia, viesse a me incomodar, como incomoda a algumas mulheres. Mas eu queria. O interessante é que todas as minhas identidades foram construídas ao longo de anos e anos. O mesmo estava acontecendo com a minha identidade de mãe. Mas de uma hora para outra tudo mudou, sem que eu tivesse tempo de entender.Era a mãe dos gêmeos e voltei a ser a filha de Aliceu e Neusa ou esposa de Júlio. Alguém pode dizer: "mas já se passaram sete meses. Que conversa chata!". Mas pra mim, aconteceu ontem e eu continuo sem chão. Ficou tudo sem sentido, a vida ficou fazia. Parece estranho, já que eu vivi 33 anos sem eles. Mas não é mais estranho do que de repente não ter mais seus filhos. Ter seus planos interrompidos. Perder o controle que vc achava que tinha. Esse vazio ronda todos os momentos da minha vida. Desde que eu acordo e imagino como seria a rotina de cuidar de dois bebês, até quando eu entro em um avião para visitar meus pais ou quando eu imagino como eles reagiriam aos fogos e a gritaria dos torcedores do Brasil em plena copa do mundo. Eles se assustariam? Estariam vestindo roupinhas verdes e amarelas? Não sei. Mas tinha planejado viver com eles a copa do Brasil em 2014, assim como as Olimpíadas de 2016 no Rio. Chata? Saudosista? Provavelmente, um pouco de tudo isso...

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Dinamismo

A vida é dinâmica. Disso todos sabemos. Mas alguns acontecimentos deixam isso ainda mais claro. Hoje, fui a uma consulta médica e soube da morte de um bebê prematuro. Maria Alice era a filha de uma adolescente de 15 anos e neta da atendente do consultório. Maria Alice nasceu aos seis meses porque a mãe foi acometida pela eclâmpsia. Passou um mês na UTI do Imip, saltou dos 700gr para mais de 1kg, mas foi infectada por uma bactéria e perdeu a luta. Mais uma família sofrendo. Ao mesmo tempo, um toque para mim: o Imip não salvou Maria Alice. Nada salvou Maria Alice, assim como nada salvou Heitor e Maria Júlia. Do outro lado, uma outra mãe. Esta ostentando a alegria de carregar a sua Maria Júlia por sete meses em seus braços e a de carregar outra menininha de 15 semanas no ventre. Por uma dessas ironias do destino, essa mulher deu a luz a uma Maria Júlia cinco dias antes de a minha vir ao mundo. Por uma dessas ironias do destino, essa mulher já está grávida de novo. Ela sonhava ter gêmeos. Como não foi agraciada, decidiu ter dois filhos no menor espaço de tempo possível. Deu tudo certo. Vai entender essa dinâmica da vida. Queria que todos fossem felizes como esta família. Mas hoje a família de Maria Alice vai chorar, assim como a minha tem chorado ao longo desses sete meses. Assim é a vida, não é?!?!!?

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Recarregando as baterias

Estou de férias e vim recarregar minhas baterias na casa dos meus pais, em Recife. É muito bom um colinho de vez em quando pra recarregar as baterias.Meu maridinho ficou. Acho que vai ser bom pra ele descansar da minha chatice.

domingo, 6 de junho de 2010

É possível ter fé e temer? Uma vez, ouvi o Pe. Rinaldo dizer que ter fé é se abandonar nas mãos de Deus, como uma criança que se joga nos braços do pai, sem temer. Achei que essa era a melhor definição de fé. Mas desde a morte de Heitor e Maria Júlia (faz sete meses esta semana), me culpo por não conseguir me entregar plenamente. Acho que é pq no dia do parto me entreguei plenamente e a minha fé não me livrou do sofrimento. Pra mim agora parece impossível não temer. Temo continuar sofrendo para sempre, temo estar me afastando de Deus, temo sofrer a perda de um outro filho, temo não ter mais filhos, temo não ir para o céu e não reencontrar meus filhos... É muito medo. Mas será que não é normal? Acho que só Nossa Senhora encararia toda essa dor de maneira diferente. Sei lá... tem gente melhor que eu no mundo, sim... Mas acho que a prova de que eu não perdi a fé, é que continuo buscando a Deus. Uma busca angustiada, é verdade. Cheia de perguntas e incompreensões. O que mais me angustia é justamente achar que posso não ser amada por Deus. O evangelho de hoje cita duas passagens em que Jesus se compadece do sofrimento de duas viúvas pela morte de seus filhos e os ressuscita. Eu pedi, mas não mereci um milagre como esse. Me esforço para encontrar algum sinal do que Deus quer dizer com isso, mas não consigo. Mesmo assim, tenho perseverado. Não sei se Ele desistiu de mim, mas eu não desisti dEle. Acho que o meu sofrimento está me levando para o fundo do sepulcro e por isso não consigo ouvir o que Deus tem a me dizer, se é que Ele tem algo a me dizer. Mas sigo tentando ouvir e pedindo perdão pela minha fraqueza. Acho que o medo vai me acompanhar sempre daqui por diante. Agora sei que mesmo com fé não estou livre das dores, ninguém está. No entanto, mesmo querendo não criar expectativas e aceitar o que Deus planejou para nossas vidas, pra mim é impossível não temer. Sobre a vida e o futuro não tenho nenhum controle e quem é que gosta de sofrer???? Até Jesus temeu... Quem sou eu diante de Deus????????

sábado, 5 de junho de 2010

Inconstância

Desde que meus filhos nasceram, encaro cada dia de uma forma.Há dias em que estou esperançosa. Mas, há outros em que a incompreensão toma conta da minha alma. A minha única companhia constante é a tristeza. Essa habita meu coração desde aquele 9 de novembro de 2009. Já tentei refletir, pedir a Deus discernimento... Mas nada funciona. Por isso, desisti da terapia. Não acredito que iria conseguir avançar. A minha impressão era que, a cada passo a frente, eu retrocedia cinco. Tenho preferido o patchwork. O grupo é uma outra forma de terapia. Cada uma daquelas mulheres tem uma história, uma dor... Mas lá raramente se fala disso. Uma tenta animar a outra numa forma de solidariedade silenciosa. Tenho me afundado na costura. Já fiz três colchas... Pra quem nunca tinha pego em uma máquina de costura... Sempre me disseram que a separação é muito comum entre casais que perdem filhos. No entanto, não acreditava que o meu casamento estivesse ameaçado. Eu e Júlio estivemos tão próximos nos momentos mais difíceis... Mas agora entendo o porquê de tantas separações em casos como os nossos. É que o sofrimento é tanto que a gente fica sem forças, sem saco para os defeitos do outro, sem vontade de ser tolerante. E o pior, não se importa com o que o outro pensa, se o outro também está cansado... Acho que é isso. Pelo menos é isso o que eu estou sentindo. Espero que seja só uma fase...

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Smile

Sorri quando a dor te torturar e a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos, vazios
Sorri quanto tudo terminar quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri...
Quando o sol perder a luz e sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados, doridos
Sorrir vai mentindo a tua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor que és feliz
Smile...