sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Como é difícil exercer a cidadania neste país

Como é difícil exercer a nossa cidadania neste país. Há cerca de cinco meses, minha princesinha foi diagnosticada com intolerância à lactose. Um alívio diante das outras possibilidades aventadas pela gastro que a acompanha. Além dos cuidados redobrados com a alimentação da pequena, o principal inconveniente é o preço do "leite" que ela precisa tomar. No primeiro mês, ela tomou uma fórmula chamada Pregomim. Cada lata custa R$110,00. A mamãe teve que arcar com o custo. A vovó e vovô também contribuiram com algumas latas. Apesar do preço, essa ainda não era a fórmula ideal e a médica prescreveu um "leite" ainda mais especializado, o Neocate. Este custa R$160,00. Para uma criança que consome oito latas por mês, o rombo no orçamento é de R$ 1.280,00. Um custo considerável para qualquer orçamento, em especial, para uma jornalista sem emprego fixo, como esta que vos fala. Pois bem, a própria médica nos recomendou solicitar o tal leitinho na prefeitura. A pequena teve que passar por uma consulta no Hospital das Clínicas, recebeu um laudo e passou a ter direito à fórmula tão especial. Estava satisfeitíssima com a presteza do administrador do nosso Recife. Mas depois de duas remessas, fomos surpreendidos com a notícia de que em virtude de uma licitação, a prefeitura parou de fornecer o Neocate e o substituiu por um tal de Amix. O problema é que apesar de o fabricante afirmar que a nova fórmula é igual a anterior, ela ainda não é regulamentada pela Anvisa e nenhum dos serviços médicos de referência (Imip e HC) conhecem esta marca e, por isso, não recomendam. Eu é que não vou fazer a minha filha de cobaia e arriscar a volta dos sintomas que nos levaram ao diagnótico. Deus me livre. Diante do impasse, resolvi mais uma vez seguir a orientação da gastro e solicitar por meio do Ministério Público que o estado forneça o Neocate. Antes de me aventurar por este universo desconhecido, liguei para o MP e fui informada de que teria que passar pela Defensoria Pública para que esta desse entrada no processo. Pois bem, cheguei às 11h30 para esperar o atendimento que se iniciava às 13h. Fui a quinta a chegar e fui atendida três horas depois. Em vez de um defensor, quem me atendeu foi um estagiário, enquanto a defensora lia em voz alta piadas recebidas em seu email. Com menos de cinco minutos de conversa, fui informada de que meu caso não se resolveria ali. Mas eu liguei antes e esperei três horas!!!! Me senti indignada, humilhada e impotente. Fiquei imaginando a dificuldade que as pessoas menos esclarecidas enfrentam para terem acesso aos seus direitos. É por isso que crianças com o problema de Sarah, no interior, são alimentadas com leite de cabra. Diante da revolta estampada no meu rosto, a defensora, delicada como papel de embrulhar prego, apenas se deu ao trabalho de preencher um encaminhamento para o juizado do consumidor. Não satisfeita, fui ao MP pra confirmar a informação. Mais uma hora perdida. As psicólogas até que se sensibilizaram quando souberam que a última lata de Neocate da minha filha acabava hoje. Mas quando eu disse que iria comprar outra no CARTÃO, elas se tranquilizaram e mandaram eu procurar o juizado do consumidor na segunda... Como é difícil exercer nossa cidadania no Brasil. Minha filha tem direito a este leite e a prefeitura para economizar centavos muda a fórmula para uma não testada. Crianças que fazem reação à lactose, em alguns casos precisam ser internadas. Essa economia vale a pena? Por que não economizar em outras áreas? E por que os trabalhadores do setor público insistem em empurrar o problema para que o outro resolva? Em nenhum momento pensei em usar de influência para conseguir algo que é um direito. Por que isso não é respeitado. Estou revoltada. Normalmente, situações como estas me tomam de um desânimo que me faz desistir. Mas dessa vez não vai ser assim. Minha filha vai receber este lei. Eu vou até o fim. Aguardem novos episódios dessa saga!