segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Sofrendo de novo

Há um ano, eu estava juntando todas as minhas forças, na tentativa de dar o meu melhor para os meus filhos, verdadeiros guerreiros que haviam nascido horas antes. Obedeci minuciosamente todas as recomendações das enfermeiras para que nada pudesse me impedir de estar na primeira visita a Heitor e Maria Júlia na UTI Neonatal. E assim eu fiz. De cadeira de rodas eu fui ver com meus próprios olhos aqueles bebezinhos tão pequenininhos lutando.

A partir daí, deixei de ser protagonista para ser uma mera espectadora. Totalmente impotente. Me dói lembrar as vezes em que vi lágrimas correrem dos olhinhos da Maria Júlia ou da vez em que ela tentou inutilmente retirar o respirador com as próprias mãozinhas. Ou ainda, da reviravolta que acontecia nos batimentos cardíacos de Heitor quando ouvia a nossa voz. Meu filho pedia socorro. Queria a minha proteção. Proteção que eu não consegui dar.

Nesse fim de semana, revivi momento por momento o início do meu pesadelo. Os sangramentos noturnos e as idas em vão ao hospital. Lembro de tudo como se fosse hoje. Lembro principalmente da minha coragem. Tirando o momento em que vi a enfermeira levando Maria Júlia se debatendo toda roxinha, não chorei. Nem ao vê-los com todos aqueles aparelhos na incubadora. Dei ali a minha maior demonstração de fé. Tinha certeza de que era só esperar que tudo daria certo. Acreditava que depois da tempestade viria a bonança e que seriamos felizes.

Hoje deveria ser dia de uma grande festa na minha família. Não tive o direito de sonhar com o tema da primeira festinha. Seria da Turma da Mônica como foi a minha? Ou seria do Backyardigans ou outro personagem infantil da moda? Não sei.

Sei que sonhei muitas vezes sair de manhã para trabalhar, levá-los para a escolinha e descer com eles no colo, um de cada lado da cintura e entregá-los cheia de orgulho às professoras. Não vou viver isso. Como dói, meu Deus.

Infelizmente, nem João Miguel consegue aplacar essa dor. Pelo contrário. Esse meu sofrimento só aumenta o meu medo de que algo de ruim aconteça. Não seria capaz de enfrentar tudo com a mesma coragem. Disso tenho certeza. Agora sei que meu clamor pode não ser ouvido e isso é aterrorizador.

Acho que até o próximo dia 9, essa angustia não dará trégua ao meu coração. Por mais que eu não queira questionar, essa pergunta não sai do meu peito: por que Deus não me livrou dessa dor? O pior é saber que agora é tarde. Nada vai mudar tudo isso. Tenho fé de que a chegada de João Miguel vai me trazer de volta a felicidade. Uma felicidade diferente, mas uma felicidade. Pena que não vou poder dizer: VENCI. Isso, talvez, só quando estivermos todos reunidos... Até lá, acabar com essa mágoa que me amargura o coração já seria uma grande vitória.

2 comentários:

  1. Serás feliz,embora com esta saudade.
    DEUS te guie.Tento me colocar em seu lugar,sei que não consigo,mas noto o quanto e difícil.
    FORÇA.

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  2. Amiga...
    Nesses momentos pensa no João Miguel...
    No amor que te fará feliz pelo presente lindo que vai nascer...
    felicidades

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