domingo, 18 de julho de 2010

Identificação

Se há uma coisa que eu aprendi nesses últimos meses, essa “coisa” é refletir. Acho que é essa vontade de encontrar respostas para tudo o que aconteceu. Muitas vezes essas minhas reflexões podem passar a impressão de que eu estou eternamente com raiva de Deus. Mas não estou.
Há uma semana, assisti na Canção Nova uma entrevista com a psicóloga Alda Rangel. Ele teve dois filhos adolescentes assassinados durante um assalto. Depois de anos remoendo a dor, ela fez doutorando sobre a dor da perda de filhos, criou um grupo de apoio para mães nessa condição e lançou o livro “Amor Infinito” em que conta a história de pais que perderam seus filhos.
Como era de se imaginar em um canal católico, essa mulher não perdeu a fé. Mas se permite questionar trechos bíblicos como o que diz: “O Senhor é meu pastor e nada me faltará”. “Como assim? Já está me faltando”, dizia ela na entrevista. A mesma pergunta eu já me fiz várias vezes. Também questiono o salmo 90 que diz que podem cair mil a minha direita e dez mil a minha esquerda que nada me acontecerá porque escolhi o Senhor como meu asilo. Essas palavras me fizeram suportar os dias de desespero na UTI neonatal. Mas depois ficou a pergunta: como assim?
A Alda também falou das frases infelizes que as pessoas nos dizem querendo nos consolar. A morte é mesmo um momento muito difícil e mais difícil ainda é escolher as palavras certas. Por isso, muitas vezes, um abraço vale mais que mil palavras. Nossa.... como me identifiquei com a Alda!!! Ela falou da impaciência das pessoas em ouvir nossos lamentos e de como para uma mãe é bom contar suas boas memórias dos filhos. Esse blog é uma forma de desabafo. Só “ouve” meus lamentos quem quer. Não “alugo” o ouvido de ninguém.
Quero ter o direito de sofrer como manda o meu coração. Sinceramente, acho que tenho encarado tudo de uma forma até razoável. Me apressei em retomar minhas atividades, procurei terapia, patchwok, não estou na cama, nem gritando a minha dor. Mas continuo sofrendo... fazer o quê?!? Só eu sei a reviravolta que a passagem de Heitor e Maria Júlia causou na minha vida...
A principal conclusão que as minhas reflexões me trouxeram é que sou uma completa ignorante em relação aos desígnos de Deus. Há muito anos, ainda no tempo do vestibular, depois de duas tentativas frustradas, entendi que não deveria pedir nada. Porque se cremos que Deus nos conhece do avesso, Ele sabe exatamente o “sal” que falta em nossas vidas e irá realizar aquilo que estiver nos Seus planos. Então nos meus momentos de angústia imitava o cego que gritava do meio da multidão: “Jesus, filho de Davi, tende misericórdia de mim”.
Pois bem... assim vivi por mais de 10 anos e consegui enfrentar as contrariedades da vida sem me sentir fracassada. O problema é que eu esqueci e pedi... Pedi para ficar grávida e depois pedi a vida dos meus filhos. Por isso sofri e continuo sofrendo...
Quando penso na minha história ou leio os posts do blog da Luciana e do Woltony tenho uma impressão de derrota, porque as coisas não aconteceram da forma como nós pedimos. Mas não podemos dizer que Deus não agiu. A pequena Helena é a prova. Pra minha mãe o fato de eu estar viva é outra prov,a porque ela temia que eu morresse.
Acho que o melhor mesmo é não pedir e esperar o que Deus tem pra gente. Isso não quer dizer não desejar, o que pra mim seria impossível. Mas, simplesmente, não pedir e confiar. Não era assim que desejaríamos no nosso conto de fadas. Mas ninguém disse que a vida seria fácil...
Obs: Quem não passou por uma dor como a que eu tenho vivido, não sabe o quanto é irritante ouvir: a vida continua, levanta a cabeça... e coisas do tipo. Tenho certeza de que ninguém gostaria de viver um dia da minha dor... Então também não queira decidir como eu devo ou não viver a minha dor... Razoável, não é?!?

2 comentários:

  1. TOTALMENTE RAZOÁVEL.
    VOCÊ ESTA ABSOLUTAMENTE CERTA,
    E DEUS SABE DO SEU CORAÇÃO,DA SUA
    DOR.ELE IRÁ TE CONSOLAR E ABENÇOAR.
    ESTAMOS ORANDO POR VOCÊ.
    BEIJOS!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  2. Me identifiquei com a parte deste post que fala sobre os clichês que ouvimos quando estamos sofrendo. O que mais me irritava era ouvir "mas você é muito nova ainda, linda, inteligente". Imediatamente meu balãozinho de desenho animado (aquele que fica em cima da cabeça expressando nosso pensamento que não pode ser falado) dizia: "que nova o quê? eu me sinto uma velha e de que me serviram a beleza e inteligência, se nada saiu conforme eu planejei?". Concordo com você que nas horas de sofrimento, é melhor um abraço que palavras, porque elas irritam profundamente.

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