segunda-feira, 12 de abril de 2010

História 3

Heitor nasceu com 770gr e Maria Júlia com 600gr. Foram guerreiros. Nasceram respirando, o que deu muita esperança aos neonatologistas. Seis horas depois do parto, já estava eu na UTI visitando meus filhos. Senti um grande alívio ao vê-los. Apesar de todos os aparelhos, estavam vivos e os médicos me diziam que embora o quadro fosse grave, o desafio deles era a prematuridade, pois eles não tinha nenhum tipo de má formação. No dia seguinte, 36 horas depois do parto, tive alta. Meu médico não teve sensibilidade nem para perceber que eu precisava estar no hospital para facilitar as visitas na UTI. Aliás, ele queria apenas se livrar de mim. Não ter que me olhar nos olhos depois de tanta negligência. Meus filhos viveram por 15 dias. Em todos esses dias estive com eles, chorando, rezando, pedindo que Deus cuidasse deles, sonhando em sair daquele pesadelo. Os primeiros dias foram bons. Mas por ironia do destino, depois que eles começaram a receber o meu leite, através de uma sonda, no terceiro dia, tudo mudou. Eles não conseguiram digerir e começaram a piorar. O leite que na maioria dos casos funciona como um remédio, para meus filhos teve efeito contrário devido a prematuridade. Foi identificada uma infecção, tudo indica que de origem hospitalar, que os médicos nunca conseguiram eliminar. Meus filhos foram ficando cada vez mais debilitados, tomaram inúmeras transfusões de sangue e passaram por cirurgias no intestino. Primeiro a Maria Júlia retirou cerca da 40% do intestino por causa de uma enterocolite. Três dias depois foi a vez do Heitor. Embora cirurgia dele tenha sido menos agressiva, meu filho só resistiu por mais 48 horas. E a Maria Júlia que já tinha passado por mais de 72 horas, parece que sentindo a falta do parcerinho dela, se foi cinco horas depois do irmãozinho. Eles eram de fato uma dupla. Ninguém pode imaginar o que é receber a ligação de um médico no meio da madrugada informando a morte de um filho, ir lá, sentir o corpinho ainda quente, voltar para casa e horas depois receber a notícia da morte da filha e repetir o ritual. Uma hora você está cuidando da decoração do quartinho e na outra escolhendo a urna para sepultá-los. A dor é insuportável. Confesso que fui tomada por um profundo ódio. Questionei duramente Deus. Como Ele podia ter deixado isso acontecer comigo? Ainda não sei. Mas tenho me esforçado para aceitar tudo aquilo em que eu sempre acreditei, que Deus é misericordioso, que Ele sabe de todas as coisas e que meus filhos estão no melhor lugar em que poderiam estar. Não é fácil. Vez por outra me pergunto por que tanto sofrimento? Por que meus filhos não puderam viver um minuto de felicidade comigo, em vez de toda a aquela dor? Acho que só vou saber quando estiver com eles, junto com Deus. Enquanto isso sigo caminhando.

2 comentários:

  1. Aline! Nem consegui terminar de ler de tanta indignação com esses médicos. Graças a Deus minha filha hoje ja ta com um ano e muito saudavel, mas também passei por poucas e boas nas mãos desses médicos hipocritas que acham que são melhores que todo mundo e brincam com a vida e sentimentos da gente. O problema é que eles sempre saem por cima ou nunca acontece nada com eles pq nomomento que acontece as coisas estamos tão abaladas que nem nós nem nossa familia pensa em processar e caçar o CRM desses FDP.

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  2. É não tenho forças para tentar processá-lo. Mas mandei um e-mail para ele, destacando todos os erros dele, apontados por outros médicos, e deixando bem claro que ele falhou como médico e ser humano. Espero tê-lo feito pelo menos refletir.

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